terça-feira, maio 11, 2021

Em memória de Ferreira de Castro - Emigrantes

    "Os homens transitam do Norte para Sul, de Leste para Oeste, de país para país, em busca de pão e de um futuro melhor.

  Nascem por uma fatalidade biológica e quando, aberta a consciência, olham para a vida, verificam que só alguns deles parece ser permitido o direito de viver.  Uns resignam-se logo à situação de elementos supérfluos, de indivíduos que excederam o número, de seres que o são apenas no sofrimento, no vegetar fisiológico, de uma existência condicionada por milhentas restricções.  Curvam-se aos conceitos estabelecidos de há muito, aceitam como bom o que já estava enraizado quando eles chegaram e deixam ir assim, humildes, apagados, submissos, do berço ao túmulo - a ver pacientemente, a vida que  vivem outros  homens  mais felizes.  Alguns, porém, não se resignam fàcilmente.  A terra em que nasceram e que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhantes, existe apenas, como o resto do Mundo, para fruição de uma minoria.  E, eles mordidas as almas por compreensíveis ambições, querem também viver, querem também usufruir regalias iguais às que desfrutam os homens privilegiados.  E deslocam-se, e emigram, e transitam de continente para continente, de hemisfério para hemisfério, em busca do seu pão."

   Revisitar Ferreira de Castro neste mundo que se pretende global torna-se necessário, nomeadamente o seu romance escrito nos anos vinte do século passado "EMIGRANTES".  Ajudar-nos a melhor nos compreendermos é o verdadeiro progresso.


 JOSÉ FERNANDO





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