terça-feira, maio 22, 2007

Tempos Incertos

Tempos Incertos 22 de Maio de 2007

Era um dia assim! Tudo parecia calmo e o azul do mar inundava a alma do mareante. O barco cumpria o seu designio, balouçando parado no sentido da proa para a ré. O sol da manhã juntava-se à festa. Tudo tão perfeito! O mar imenso tornava pequeno o homem que o observava como de um reencontro se tratasse. O pensamento flutuava e era embalado.
Não longe dali o sustento saía da água pelas mãos que apertavam com força as redes e os braços ansiosos procuravam mais e mais...! Aqui o mar era pequeno e a visão apenas estava atenta ao que o levantar das malhas poderia mostrar e que se reforçava conforme menos rede encharcada havia para alar.
Na cidade, no país que tem uma costa litoral enorme ninguém tinha tempo de contemplar o mar. Tempo, não por falte dele, mas por desinteresse. Outrora, segundo reza a história foi o mar que fez o orgulho nacional. Os descobrimentos maritimos faziam parte da tabuada, não podendo falhar nenhum, bem assim qual os navegadores que acostaram aos novos mundos obedecendo à regra cronológica. Será que isso hoje tem algum interesse?
O dia e o mar estavam perfeitos e mesmo assim, o mar não tinha quem o sulcasse, nem mesmo quem tivesse vontade de o olhar.
Que partido tiram os nossos concidadãos da natureza que os envolve? Que relação ou conhecimento têm dela. Os mareantes voltam ao porto, uns trazem o sustento, outros a alma renovada.
O país das Otas, dos metros, das obras que são necessárias e daquelas que servem interesses pessoais. O país em que se tenta justificar todos os atrasos, desde os tribunais às consultas de saúde. Estas gentes vão demorar muitos anos a voltar a olhar o mar e perceber que a vida também existe fora dos noticiários das telelvisões ou das novelas medíocres que ajudam a enfraquecer ainda mais a cabeça dos conterrâneos. Para onde corremos?
A noite está prestes a cair e tenho que regressar. Atraco o barco mas não a alma.
José Fernando

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