sexta-feira, novembro 27, 2009

O convite

Recebi há dias um postal do conselho distrital do Porto da nossa ordem. Ao lê-lo percebi que já ali estava inscrito vai para trinta e um anos. Primeiro não liguei muito, mas depois o imaginário foi mais forte do que eu e atirou-me, felizmente sem grande nostalgia para as ondas do tempo.

Percebi que as carreiras de todos aqueles que como eu atingiram esta posição etária, foi bruscamente alterada. Curiosamente a questão mais profunda dessa modificação prendeu-se com as universidades cogumelo que foram vendendo o seu produto até ao ponto de terem inundado o mercado de licenciados em direito. Não trouxeram nada de novo em relação ao cinzentismo que as clássicas sempre apresentaram quer ao nível dos programas quer ao nível da forma de ensino e integração nas actividades. Os bastonários não mostraram capacidade para travar o que era inevitável e o resultado está à vista de todos. Pergunto-me qual o futuro dos alunos que hoje frequentam as faculdades de direito na pública ou na privada. Poderão, apenas ter a consciência que não estão a ser enganados, já que a realidade é de todos conhecida.

Tudo isto provocou um desgaste enorme nas actividades forenses que o tempo se irá encarregar de ir sarando, mas nunca nada será como dantes, nem assentará sobre pressupostos elitistas e consequentemente fragilizando ainda mais a posição da ordem que tenderá a perder força porque cada vez haverá menos colegas a perceberem a necessidade no mundo que dia a dia nos aborda, da existência de uma estrutura pesada que como tal tem dificuldade em mudar de rota em tempo útil quando a sociedade já pede outro tipo de atitude.

As profissões forenses sofrem todas elas da mesma dificuldade. Dificuldade de inter-agir com a sociedade em que estão inseridas, tornando-se parceiros de qualidade duvidosa em que os cidadãos não se reveem.

Continuar parece ser a senda de todos aqueles que já jogaram o que tinham para apostar nesta profissão. Poder-se-à fazer mais, mas era necessário que a pequenez daqueles que ainda pugnam pelo" verniz" deixasse de uma vez por todas de campear no nosso seio. Vamos ter a coragem de falar de coisas sérias e deixar de falar para dentro dos interesses pessoais. Só, assim se evitará a degradação e a consequente extinção.

josé fernando


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